Patilhas nasceu neto de avós incógnitos. Ninguém sabe quem foram os seus antepassadosmas há quem diga que ele teve um tio que usava bigode e sofria de insónias, passando todas as noites a fazer investigações, para descobrir pulgas na cama. Segundo reza a lenda, o tio de Pati lhas conseguiu, numa única noite descobrir rasto de 1769 pulgas, o que deve constituir o record mun dial desta interessante modalidade desportiva.
Talvez provenha daqui o espírito investigador de Patilhas que, sendo ainda menino de colo, disse um dia para a ama: «Quero a esquerda, que é maior!...» Isto revelou imediatamente as suas excepcionais qualidades de observação...
Quando Ventoinha
nasceu, o seu papá, que esperava o feliz acontecimento na sala ao lado,
com a natural impaciência de todos os papás, e fumando cigarros
até à cortiça, exclamou, em tom irado: «Quem foi
o artolas que abriu uma janela?!...»
Realmente, sentia-se por toda a casa uma forte corrente de ar. Sentia-se
vento!
Por isso, o bebé recebeu o nome de Ventoinha. Era um bebé activo, que se mexia muito, provocando correntes de ar fresco em todas as direcções. No Verão, a família poupava um dinheirão: em vez de utilizar refrigeração eléctrica, ligava o miúdo...
Porém, muito cedo
o rapazinho começou a mostrar o seu feitio refiIão. Quando o
mandavam para a cama (precisamente na altura em que a televisão terminava
a apresentação das suas «cow-boyadas», com tiros
e mortos, para começar a exibir variedades), o Ventoinha levantava
sempre cabelo, e dizia:
«Contrariado... mas vou!» E ia, realmente, bastante contrariado...
Na escola, era o mesmo.
Quando o professor o mandava ir ao quadro, dizia sempre: «Contrariado...
mas vou!» Quando o mandava sentar, depois de lhe aplicar o habitual
«zero» na caderneta, respondia na mesma:
«Contrariado... mas vou!»
Aos 20 anos, teve um ataque de fígado e outro de amor... Do ataque de fígado curou-se, mas do outro, não. E assim, casou com a Flausina, aquela menina que tinha a voz tão fininha como as pernas... Até na altura do «sim», quando lhe perguntaram se aceitava a Flausina para esposa, ele respondeu: «Contrariado... mas aceito!»
Foram muito felizes, e não tiveram muitos meninos: só tiveram um, o Flautinha, que parece querer seguir a profissão do papá, e já se dedica, apesar da sua pouca idade, a fazer investigações no quarto das criadas...
A Flausina faleceu de morte macaca, ainda muito nova. E o Ventoinha ficou com o encargo de aturar o Flautinha... e o seu chefe Patilhas, que ainda é mais difícil de suportar que o miúdo. Mas o Ventoinha dá-se bem com ele, embora seja desconsiderado, às vezes, e mal compreendido. Apesar disso, todos os dias, vai para o escritório trabalhar. Vai ajudar o seu chefe a resolver os maiores mistérios deste século, tais como o «mistério do prego sem mostarda e com ferrugem», o «mistério da ga sosa sem bolinhas», o «mistério do bolo-rei sem buraco», e outros misté rios ainda mais misteriosos. Sim, o Ventoinha levanta-se todos os dias às onze da madrugada, e vai trabalhar.
Contrariado... mas vai!
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