Sansão Vaz
Muitos
não saberão, mas Portugal, conta com um património radiofónico
muito grande, muitas são as colecções particulares de
entusiastas, que ao longo de algumas décadas têm conservado um
sem número de aparelhos receptores e outro tipo de material ligado
à telefonia.
É o exemplo vivo de Sansão Vaz, que possui em seu poder perto
de cinco centenas de telefonias, receptores/emissores de guerra e aparelhos
de gravação

Aos
Valencianos, políticos e não só, não deixem que
este património saia dessa terra, que alguém futuramente esventre
esta colecção, que coleccionadores furtivos a levem sabe-se lá
para onde, e por último que o nome de Sansão Vaz acompanhe para
sempre este património radiofónico, porque foi este Sr. que lutou
para a conseguir. Este aviso é urgente, pois todo este material se encontra
em cima de um barril de pólvora, vejam por exemplo a oficina, um local
forrado de madeira e onde se trabalha com electricidade. O perigo é constante,
visto se tratar de material antigo e as instalações não
fornecerem segurança.
Foi
através de um amigo em Valença do Minho, António Teles,
que tive conhecimento de que um filantropo da sua terra, há já
vários anos que coleccionava e restaurava estes aparelhos. Numa das minhas
folgas ocasionais, no dia 1 de Outubro de 2002 lá fui de abalada até
esta bonita terra minhota, que sempre me trás na saudade as minhas viagens
a Espanha em épocas em que para se atravessar a fronteira era preciso
pedir licença.
Sempre com o apoio do amigo Teles, lá fomos visitar o sr. Sansão
Vaz, mais conhecido por Sává.
A sua esposa recebeu-nos com um ar de desconfiança, pois nos dias de
hoje, não se sabe o que por aí vem. Mas quando o amigo Teles disse
que era amigo da sua filha Rosa, prontamente respondeu, "se são
amigos dela, então podem entrar".
Fizemos as apresentações, dissemos qual o nosso propósito
da visita e lá começamos a vêr as relíquias.
Só uma palavra descreve o primeiro olhar, "impressionante".
Como numa modesta casa se consegue ter tantos aparelhos? Digo-lhes que nesta
habitação, practicamente não existe móveis, só
rádios, e podem-no comprovar pelas fotos que ilustram este artigo.

A história começa em 1948/49 quando o Sr. Sává foi
cumprir o serviço militar a Lisboa, aproveitando esta estada na capital,
tirou o curso de radioelectricidade na Rádio-Escola.
Tendo concluído a formação, começou por se tornar
técnico em reparações de Telefonias. Pasou a ser conhecido
e logo voltou-se para o aluguer de material e animação de festas
e romarias, inclusivé bailes de salão, chegando-me a confessar
que era um entusiasta por estas lides, "Não perdia um, gostava muito
de dançar...".
Somente
a partir de 1985 é que iniciou a sua colecção. Contactou
pessoas, por oferta, compra ou permuta, lá começou a sua colecção.
"Cheguei a colocar um anúncio no jornal a dizer que se

Melhor
que as minhas palavras, as fotografias ilustram o que realmete é o Mundo
de Sává. As prateleiras enchem-se de história, emoções
e uma nostálgia anormal, pois é de um tempo que não vivi.
A visita continuou, entrei em mais dois quartos, e a vista era a mesma, as paredes
não se viam, só telefonias. Então perguntou-se se todos
aqueles rádios funcionavam, respondendo numa frase directa e já
decorada - "Dou-lhes a finalidade para que foram criados, funcionar...".
-Não os modifico interiormente, mantenho-os o mais original possível,
não os coloco a funcionar com material electrónico moderno, mas
sim retirado de rádios dessa época.
-E como consegue por exemplo as válvulas?
-Em tempos também fui vendedor de aparelhos, quando recebia as retomas,
eu retirava tudo o que desse para aproveitar, colocando em caixotes. Hoje posso
reparar outros rádios com esse material.
A colecção é composta por aparelhos que vão de 1928
até à década de 60, marcas como Phillips, RCA, His Master's
Voice, Marconi, Telefunken, Siemens, além de outras, podem ser encontradas
nesta colecção.


alguem
fosse deitar um rádio fora, que não o fizesse, pois eu ficava
com ele...".
Por alguns corredores estreitados por paredes de rádios, lá fomos
visitando a sua colecção.
E pela primeira vez vi dois aparelhos que há muito gostava de apreciar
ao vivo, o célebre rádio da Emissora Nacional e um receptor com
um gravador de fio de arame dos anos 40. Para meu espanto o gravador tinha algumas
bobines, e na esperança de poder encontrar algum programa antigo, perguntei
qual o conteúdo "do fio"?
-"Algumas conversas de pessoas que moravam aqui perto", repondeu.
Em
Julho de 2000, foi convidado a integrar a sua colecção na Expovalença,
expondo 250 aparelhos, trazendo à luz do dia e dar a conhecer a sua paixão.
A
visita continuou, quando me falou da sua oficina, o que prontamente lhe solicitei
uma "vista de olhos" a esse espaço. Lá fomos ao seu
sotão e com o sol a dar nas telhas, fazia da oficina uma estufa autêntica,
ao entrar senti que estava a regressar algumas décadas no tempo, os aparelhos
para reparação, os fios, os medidores e claro está os fermos
aparelhos de TSF.
Mas o que nos chamou a atenção foi de um aparelho sem invólucro,
que se encontrava numa velha cadeira:
-Sr.
Sává isto é um rádio?
-Sim é
-Funciona? Perguntamos nós
-Agora sim, é de um antiquário espanhol que mo trouxe em muito
mau estado, e já está pronto, ficou caro, o transformador teve
que ser feito no Porto.
Ligou e podemos receber algumas estações emissoras espanholas.
Impressionante a qualidade de som que tinha, vejam pela fotografia do que estou
a falar.
Trocamos contactos, prometemos voltar com mais calma e quem sabe de futuro fazer
um inventário ilustrado de todo este património.
Para visualizar click na
imagem
Ao
Sr. Sansão Vaz, o meu bem haja e parabéns pela dedicação.
Obrigado também pela sua hospitalidade e simpatia.
A gentil recepção
de Sansão Vaz
O Amontoar de história
e dedicação
O Receptor comercializado
pela Emissora Nacional
EN - Emissora Nacional 1935
Em perfeito estado de funcionamento,
as telefonias vão enchendo as prateleiras
A oficina onde dá
voz às máquinas
Curioso aparelho, que funciona
a 100 por cento.
Fotos - Proíbida a reprodução











